Toda obra iniciada, seja ela de pequeno ou grande porte, gera uma quantidade de resíduos, os conhecidos ‘entulhos’. Dados da Abrecon (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição) apontam que os resíduos chegam a representar 50% do material desperdiçado no segmento – são cerca de 850 mil toneladas de resíduos descartados todos os meses. O número dá uma boa ideia da imensa quantidade de materiais que se descarta anualmente em obras espalhadas pelo país.
Em definição da Abrecon, o Resíduo da Construção e Demolição (RCD) ou Resíduo da Construção Civil (RCC) é todo resíduo gerado no processo construtivo, de reforma, escavação ou demolição. Desta forma, pode-se dizer que o entulho inclui os restos de tijolo, argamassa, concreto, madeira, aço e outros materiais advindos da construção, reforma e/ou demolição de estruturas diversas como residências, prédios e outras obras.
O descarte errado desses resíduos provenientes da construção civil gera um grave problema ambiental especialmente nos centros urbanos. O que muitas pessoas ainda não sabem é que esses materiais podem ser reaproveitados e até mesmo comercializados novamente: a reutilização de materiais na construção civil transforma os resíduos das obras em produtos comerciais que podem ser novamente usados em outras inúmeras aplicações.
Como funciona a reciclagem na construção civil?
Além de reduzir o uso de matéria prima para a fabricação de novos materiais de construção, os materiais reaproveitados podem ser utilizados em obras públicas e privadas, construção e manutenção de estradas.
É possível pensar em formas de melhorar o descarte e evitar o desperdício de matéria prima logo no início da construção. Por exemplo, as fôrmas para a concretagem, muitas vezes são abandonadas ou descartadas incorretamente, sem que se pense na sua reutilização em outras aplicações, como no caso das fôrmas de madeira, ou até mesmo seu reaproveitamento em outras obras, no caso das fôrmas metálicas. A massa ‘podre’ de concreto ou argamassa é outro exemplo, pois também pode ser reaproveitada na mesma obra ou ser encaminhada para a produção de pavimentação em vias públicas.
Nos casos de casa e edificações que serão construídas em terrenos em que já há uma construção antiga a ser removida, é preciso ainda mais cuidado para garantir que os resíduos da remoção possam ser reciclados e reaproveitados. É necessário que a antiga construção seja desmontada ao invés de demolida.
Isso porque, um dos problemas enfrentados quando se fala em reuso de materiais de construção é que muitos destes produtos não foram feitos para serem desmontados. Para isso, é preciso conhecer as técnicas para essa desconstrução, caso contrário, o tempo de obra poderá ser muito maior que o normal. Além disso, para que possam ser recicladas de maneira correta, é fundamental que as peças sejam separadas de acordo com o seu material. Além disso, vale lembrar que nem todos os materiais podem ser reutilizados: vidros, cerâmicas, boxes de banheiro, telhas de amianto são alguns dos materiais que devem ser descartados.
A reciclagem ou reutilização de materiais pode ser feita com o auxílio de máquinas trituradoras, que transformam o resíduo em pó. Somente após a granulagem, ou seja, a separação das frações é que se pode dar uma destinação adequada aos novos materiais. De acordo com o tamanho da fração, os resíduos serão classificados em areia, brita, pedrisco, bica corrida e outros e a partir disso, poderão ser comercializados como matéria prima secundária.
Em um terceiro momento, a matéria prima será misturada a um pouco de aglomerante, que transforma o material resultante em uma argamassa e poderá servir para fabricar produtos de base para a construção civil como tijolos, blocos de cimento, britas.
É preciso pensar na reutilização desde o projeto
O canteiro de obras reproduz os planejamentos de obra feitos nos projetos executivos. Por isso, a reutilização deve ser pensada já durante a concepção do projeto executivo. O arquiteto deve olhar a obra de forma racionalizada, ou seja, para o aproveitamento otimizado dos materiais. Além disso, o profissional atento a essa questão também irá atender à exigências legais de alguns municípios, que já contam com plano de descarte para materiais como tintas, madeira, gesso etc. antes mesmo de liberar o alvará da obra.
Hoje também já é possível contar com sistemas construtivos alternativos, como o steel frame, em que a estrutura é feita com chapas prontas (de madeira, isopor etc). Estes materiais já chegam prontos ao canteiro de obra, agregando qualidade e facilidade na construção.
A construção sustentável, com a reutilização de materiais ou com o uso de sistemas construtivos diferenciados é uma tendência que vem crescendo em todo o mundo. É um primeiro passo para evitar desperdício de materiais e preservar o meio ambiente.